Mesa-redonda reivindica incorporação do feminismo à economia solidária



O auditório do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região (SindBancários) recebeu ontem, 22 de março, a mesa-redonda “Oportunidades e desafios para uma economia solidária e feminista”. O evento foi organizado pelo núcleo feminista da Guayí, e fez parte da programação do Fórum Municipal de Mulheres de Porto Alegre para celebrar o mês das mulheres.

A atividade era ligada ao projeto “Brasil Local Economia Solidária e Feminista”, executado pela Guayí em parceria com a Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes) do Ministério do Trbalho e Emprego. O objetivo era propor debates e reflexões comuns para, adiante, apresentar propostas concretas para que a economia solidária supere a lógica de mercado, que invisibiliza e marginaliza o trabalho das mulheres.

O debate começou com uma saudação de Lourdes Rossoni, dirigente do SindBancários, que lembrou que a maior parte dos trabalhadores informais são mulheres e registrou o desejo do movimento sindical bancário de maior envolvimento com a pauta da economia solidária. A sede do sindicato abriga uma loja de produtos da economia solidária e mantém um coletivo de mulheres bancárias.

Mulheres que representavam empreendimentos solidários deram seu depoimento sobre suas realidades cotidianas. Ilma Borges socializou a vitoriosa experiência da RICS – Rede Industrial de Confecção Solidária –, que organiza mulheres detentas e ex-detentas entre seus quadros produtivos. Seu principal cliente é o Grupo Hospitalar Conceição, para quem a RICS produz 20 mil peças de roupa hospitalar por mês. “As pessoas em situação de vulnerabilidade social têm muitas dificuldades de acessar o mercado de trabalho e de se qualificar”, considerou Ilma. “É importante que o poder público e a sociedade civil intervenham nessa questão via economia solidária”, concluiu.

Estela Vilanova, representando o Fórum Brasileiro de Economia Solidária, destacou que há diversas políticas na área voltadas para as mulheres, mas muitas acabam reafirmando a divisão sexual do trabalho. Para ela, o diálogo entre economia solidária e economia feminista deve contribuir para superar a lógica de desvalorização do trabalho feminino.

Helena Bonumá, coordenadora técnica da Guayí e coordenadora nacional do programa Brasil Local e Feminista, expôs a importância dos princípios da economia feminista para uma real transformação do mundo. Segundo ela, a economia do sistema capitalista considera o mercado, não o bem-estar das pessoas, de maneira que a economia solidária deve superar a ideia de que trabalho se resume ao que é notado pelo mercado. “Mesmo nos empreendimentos solidários, as mulheres se concentram em áreas em que historicamente foram colocadas, como alimentação, vestuário, artesanato”, disse. “São áreas imprescindíveis para a vida humana, mas que são desvalorizadas perante a sociedade”.

A mesa-redonda foi composta por Tauá Pires, da Cáritas Brasileira, Heron de Oliveira, superintendente regional do trabalho e emprego no Rio Grande do Sul, Maribel Kauffman, representando a Secretaria de Economia Solidária do Governo do Estado, e Evelize Sousa, representando a Secretaria de Mulheres do Governo do Estado.

Os integrantes da mesa reafirmaram a importância da economia solidária para enfrentar contradições inerentes ao sistema capitalista. Tauá Pires considerou que, tendo o governo brasileiro a meta de exterminar a pobreza extrema no país, é preciso pautar a economia solidária como instrumento dessa batalha. Maribel Kauffman completou, afirmando que a pauta da economia solidária deve ser levada aos espaços de participação popular, especialmente o orçamento participativo.

Ao final, a Guayí entregou uma pauta de propostas para ambas as secretarias estaduais presentes e para a Superintendência Regional do Trabalho. Entre as propostas, o compromisso de dar sequência ao debate ali iniciado; a necessidade de discussão da previdência dos trabalhadores e trabalhadoras de empreendimentos solidários (que, em sua larga maioria, encontram-se desprotegidos socialmente); e a reivindicação de que o poder público favoreça demandas socialmente orientadas, como nos mostra o exemplo da relação entre RICS e GHC.

Comentar

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *