Projeto Arroz Quilombola
O presente projeto é fruto das deliberações aprovadas na plenária no Seminário Nacional de Agricultura Negra e Quilombola, realizado em 26 e 27 de agosto de 2006, em Porto Alegre, promovido pela Federação das Comunidades Quilombolas do RS e pela Guayí. O Seminário contou com o apoio do MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário.
A etnoagricultura, agricultura praticada pelos povos e culturas tradicionais, hoje está sendo valorizada em todas as partes do mundo em virtude do grande descontentamento e inconformidade com a crescente massificação e homogeneização promovida pelo agronegócio, onde a biodiversidade, diversidade cultural são as grandes vítimas. Este movimento mundial, conhecido como slow food, resgatou a semente quinoa andina, o arroz negro selvagem canadense, variedades de tomatinhos coloridos andinos, batatas andinas, milhos coloridos, etc. Mas à medida que um mercado vai se abrindo os povos tradicionais são substituídos por ágeis agronegociadores. Hoje a produção andina da quinoa ocorre nos Estados Unidos, tomatinhos coloridos estão patenteados pelos holandeses. O arroz selvagem canadense é cultivado por grandes empresas americanas e canadenses. O mesmo destino poderá ocorrer com o arroz quilombola, oryza glabérrima. Neste sentido cabe aos quilombolas o direito de ocupar parte deste mercado que se abre, e mantê-lo com a mesma ética que garantiram a sobrevivência desta semente durante milhares de anos.
Atualmente o cultivo do arroz nas comunidades é praticada com uso de sementes convencionais dependentes de altas quantidades de nitrogênio, uso de adubos químicos solúveis de alta solubilidade utilizando altos níveis de consumo de água e uso de agrotóxicos. A utilização deste modelo privilegia agricultores capitalizados, com maior extensão de terra e com alto índice de mecanização da lavoura. Ou seja, é um modelo excludente para o pequeno agricultor, e mais excludente ainda para um agricultor negro quilombola. Em virtude, destes fatos boa parte das terras cultivadas de arroz são arrendadas para os brancos e ou arrendadas para vizinhos mais capitalizados. Desta forma o presente projeto visa levar tecnologias ecológicas inovadoras que diminuam o custo de produção, ampliem a produtividade, melhorem a qualidade do solo das terras quilombolas e que possa ser reproduzida e reaplicada em outras comunidades.
Atualmente nas Comunidades as atividades comerciais e de intermediação são efetuadas por agentes econômicos externos às comunidades. A falta de exercício comercial de intermediação distância os quilombolas dos consumidores e os torna dependentes e explorados pelos intermediários, esta relação torna menos atrativa a atividade agrícola para os mais jovens que ao atingirem a maior idade procuram mercado de trabalho fora da sua comunidade. O êxodo rural nas comunidades é uma realidade que para ser revertida necessita gerar trabalho na produção e na comercialização com qualidade de gestão.
É interessante observar que a massa é contribuição culinária da cultura italiana, o churrasco é contribuição do gaúcho, a cerveja é contribuição dos alemães, o chimarrão é contribuição do guarani, a mandioca e o milho são contribuições dos índios brasileiros. Mas, o arroz com feijão é dito genericamente que é dos brasileiros e não uma contribuição dos negros africanos. Reverter esta invisibilidade da contribuição da cultura negra africana para todos os brasileiros é uma necessidade para tornar nosso país mais justo e menos discriminatório.
O presente projeto aborda desta forma a questão da produção ecologicamente sustentável, o consumo ético pelos próprios quilombolas e a sua comercialização gerando renda e trabalho para os próprios quilombolas.
Objetivo geral
Fazer o acompanhamento técnico para o resgate da semente de arroz quilombola, oryza glabérrima, em comunidades quilombolas do RS de forma sustentável ecológica, econômica e social.
Objetivos específicos
– Promover a auto-estima das comunidades quilombolas;
– Valorizar a contribuição da cultura negra para a sociedade brasileira;
– Oportunizar conhecimentos de práticas de tecnologias ecológicas inovadoras;
– Promover ações que promovam a segurança e a soberania alimentar;
– Promover ações de geração de renda nas comunidades quilombolas;
– Promover ações de intercambio cultural e comercial com consumidores urbanos;
Comunidades envolvidas
– Comunidade Quilombola de Casca – Mostardas
— Comunidade Quilombola de Teixeiras – Mostardas
– Comunidade Quilombola Limoeiro – Palmares do Sul
– Comunidade Quilombola Olhos D´Água –Tavares
– Comunidade Quilombola São Miguel dos Negros – Restinga Seca
– Comunidade Quilombola Rincão dos Martimianos – Restinga Seca
– Comunidade Quilombola Cerro do Formigueiro – Formigueiro
– Comunidade Quilombola Rincão dos Negros – Rio Pardo
Entidades parceiras
– Federação das Comunidades Quilombolas do RS
– Núcleo de Economia Alternativa da Universidade Federal do RS
– Fundação Juquira Candiru
– Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Mostardas.