Arroz quilombola terá mutirão para colheita em Mostardas



A comunidade quilombola de Teixeiras (Mostardas-RS) fará a primeira colheita do arroz africano (Oryza glaberrima) no Estado, no próximo final de semana (21 e 22 de abril). Estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e representantes de comunidades quilombolas do estado farão mutirão para colher manualmente os dois mil metros quadrados de lavoura.

A atividade do Programa Arroz Quilombola – projeto desenvolvido pela Guayí, organização da sociedade civil de interesse público (Oscip), com apoio da Petrobras – marca o início da colheita nas oito comunidades de remanescentes de escravos que estão cultivando o Oryza glaberrima como alternativa de geração de renda e como forma de resgatar a contribuição negra na agricultura brasileira.

O projeto destinado a resgatar o arroz africano e promover a etno-agricultura teve suas bases lançadas em 2005, quando o egenheiro agrônomo Sebastião Pinheiro trouxe 1,7 kg de sementes do Oryza glaberrima de um quilombo localizado no estado da Paraíba. As sementes foram repassadas para o agricultor Juarez Pereira, parceiro do projeto, que teve a incumbência de multiplicar as sementes e de pesquisar um sistema de cultivo adaptado ao Rio Grande do Sul. Na safra 2005/2006, ele colheu em torno de 800 kg. Na safra 2006/2007 estão sendo multiplicadas as sementes deste arroz nas seguintes comunidades quilombolas gaúchas: São Miguel dos Pretos e Rincão dos Martimianos (Restinga Seca), Casca, Beco dos Colodianos e Teixeiras (Mostardas), e Capororocas (Tavares). A meta para 2007 é atingir dez toneladas do arroz quilombola, destinando 2,5 toneladas para plantio na safra 2007/2008.

Resistência cultural

O plantio do arroz Oryza glaberrima pelos negros começou por volta de 1619, no Maranhão, como cultivo de subsistência. Mais tarde, o governo português opta pela produção comercial do arroz tipo asiático, instituindo inclusive a pena de um ano de prisão e multa para os brancos que plantassem a variedade africana e de dois anos para escravos e índios.

Os quilombolas, no entanto, continuaram a plantar o arroz africano, de cor avermelhada. Eles guardavam consigo as sementes numa atitude de resistência e afirmação de sua cultura. Nos quilombos do Rio Grande do Sul – que hoje somam mais de 120 identificados e reconhecidos, segundo a Federação das Comunidades Quilombolas do RS – é possível encontrar as linhas mestras dessa história do negro no Brasil. Algumas comundiades vêem no cultivo do arroz quilombola uma forma de resgatar seus valores culturais, sua história e suas tradições.

Agricultura ecológica

O Programa Arroz Quilombola incentiva a utlização de tecnologias da agricultura ecológica. Assim, o manejo do solo e da água, os insumos agrícolas como as farinhas de rochas, os biofertilizantes e os fosfitos tornam desnecessárias as utilizações dos agrotóxicos e dos adubos químicos sintéticos. O resgate, cultivo e a disseminação do arroz quilombola objetiva promover alternativa de geração de renda nas comunidades de remanescentes de escravos, valorizar a contribuição da cultura negra, oportunizar conhecimentos de práticas de tecnologias ecológicas inovadoras e promover ações de intercâmbio cultural e comercial com consumidores.

O Programa Arroz Quilombola é desenvolvido pelo Núcleo Ecologia e Agriculturas da Guayí, em parceria com a Federação das Comunidades Quilombolas do RS, Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Mostardas, Núcleo de Economia Alternativa da UFRGS, Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e Petrobras. A Guayí, palavra que significa “semente” no idioma dos índios Guarani, atua nas áreas de agricultura e ecologia, economia solidária, democracia participativa, direitos humanos e segurança urbana.

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