Africanos protestam no FSM contra a política dos EUA



Direto de Nairóbi (Quênia)- O VII Fórum Social Mundial, realizado de 20 a 25 de janeiro em Nairóbi, capital do Quênia, superou as expectativas dos organizadores do evento. A tradicional caminhada que abre o FSM reuniu uma multidão que protestou contra o modelo hegemônico neoliberal e contra o governo Bush nos EUA.

O ponto marcante foram as manifestações contra os ataques americanos na Somália, país que faz fronteira com o Quênia. A Somália foi invadida pela Etiópia, com apoio dos americanos. Segundo um jornal de Nairóbi, quatro civis morreram no primeiro ataque e mais 27 no segundo, vítimas dos aviões americanos na fronteira entre a Etiópia e a Somália. Os americanos alegam que existe um braço político islâmico que estaria acobertando terroristas na Somália.

A África precisa deste tipo de evento que discute livremente as condições socias do mundo e agora com este enfoque na realidade africana. A violência é uma grande preocupação das autoridades locais, tanto é que fazem recomendações constantes para os participantes do Fórum como não andar sozinho pelas ruas e também não andar na rua durante a noite, bem parecido com o Brasil.

Um incidente no segundo dia do Fórum demonstra um pouco a realidade caótica dos quenianos. Praticamente não há sinais e nem placas de trânsito e uma participante queniana do Fórum foi atropelada e morreu em frente ao portão de entrada do evento, realizado no estádio Moi International Sports Centre. Os acidentes são freqüentes e o número de carros nas ruas é muito grande, pois o transporte público é péssimo e a maioria das pessoas se locomove de carro ou em vans, que passam sempre lotadas. Muitos preferem ir andando ou corrrendo. A cidade de Nairóbi tem 2,5 milhões de habitantes e agora eu entendo porque os quenianos ganham todas as principais maratonas do mundo.

Políticas públicas e sociedade civil

O ministro Luis Dulcci, da secretaria geral da presidencia da republica do Brasil, esteve presente dia 23/01 no Fórum, enfantizando os resultados positivos alcancados pelo encontro. Segundo o ministro, este espaco democrático produziu diversas discussões políticas em diferentes âmbitos, obtendo resultados palpáveis. “Acredito que o fórum continuará a produzir discussões profundas se conseguir manter sua radicalidade de opiniões e de formas”. Ele complementou dizendo que a agenda do fórum é diferente da agenda política propriamente governamental, mesmo em países com governos de esquerda.

O ministro complementou que estão sendo desenvolvidas políticas públicas no Brasil com a participação da sociedade civil, sendo realizadas em 2006, 40 conferencias setoriais, tendo participado mais de 2 milhoes de pessoas. Neste sentido, Dulcci afirmou que cabe ao governo criar espaco no Estado para que a agenda da sociedade civil possa ser expressa através do tensionamento dos programas existentes ou até reforcando algumas políticas públicas, sem que esta forma de participação direta substitua o modelo democrático representativo.

“Em meio a crise das democracias participativas, como é o caso da democracia americana, que em função da não obrigatoriedade da presenca no pleito, registra uma partipação de apenas 40% da população no processo eleitoral, logo esta tendência de consulta à sociedade civil tende a enriquecer o processo democrático”.

Um dos espectadores importantes da fala do ministro brasileiro era o professor de Sociologia da Universidade de Coimbra, em Portugal, Boaventura de Souza Santos, que fez um relato muito interessante no final do evento. Segundo Boaventura, o ministro Dulcci deixou um recado no fórum para os participantes. “A sociedade civil deve organizar-se e pressionar o governo, para criar uma nova agenda de governo capaz de incluir os movimentos da sociedade civil como protagonistas das políticas públicas do Estado, eis o desafio da nova esquerda”.

* Sérgio Valentim Jr. é Assessor Técnico da RICS

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