Textos de Contribuição ao Debate sobre EPS



I. Estudando uma prática

A breve apresentação do estudo realizado sobre a Rede de economia solidária do Fórum Social Mundial, em sua edição no ano de 2003, enfoca a economia solidária como um fenômeno social que cresce em um ambiente de desemprego e alterações estruturais no mercado de trabalho.

Concentra-se nos desafios da autogestão como prática antagônica à cultura da alienação e da subordinação do trabalho assalariado. A autogestão é assumida no discurso da economia solidária como o meio do trabalho associado gerar empreendimentos solidários capazes de gerar renda para os trabalhadores e trabalhadoras.

Desemprego dos anos 90

A análise do desemprego nos anos 90 permite constatar o quadro conjuntural do mercado de trabalho assim como a influência das suas mudanças estruturais.

Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos – DIEESE, durante o período compreendido entre as décadas de 1940 e 1980, houve no Brasil a constituição de um perfil de mercado de trabalho cuja característica predominante foi o constante aumento na quantidade de trabalhadores assalariados. Este aumento quantitativo foi acompanhado por um aumento qualitativo na formalização das relações de trabalho (DIEESE:2001).

O mesmo já não podemos afirmar da década de 1990, caracterizada por uma regressão no mercado de trabalho. Houve a combinação do aumento do desemprego com o crescimento do trabalho vulnerável. No mundo do trabalho e na economia houve a queda dos rendimentos reais e aprofundou-se a concentração de renda (ibidem).

No decorrer da década de 80, houve desemprego entre 1981 e 1983, no interior de um período de crescimento econômico. Este desemprego começou a ser absorvido a partir de 1984, sendo que o país chega a 1989 com os menores índices da década (ibidem)

Já na década de 90, houve novamente desemprego. Porém, mesmo com a retomada do crescimento econômico de 1993 a 1997, as taxas de desemprego continuaram elevadas durante toda a década (ibidem). Portanto, não houve uma absorção, dando sinais de alterações estruturais no mundo do trabalho.

Resistências ao desemprego

Este quadro tem criado um excedente de força de trabalho no mundo do trabalho. O emprego formal, conhecido entre os trabalhadores como de carteira assinada, passa a ser uma possibilidade para uma parcela minoritária da força de trabalho. Este excedente de força de trabalho tem praticado diferentes alternativas e estratégias para enfrentar a situação do desemprego – resultante de elementos conjunturais e estruturais .

Entre estas diferentes práticas no mundo do trabalho para enfrentar esse desemprego está a economia solidária, fenômeno social que vêm crescendo e despertando interesse nas áreas da sociologia, antropologia, economia e administração. Esse interesse decorre de diferentes fatores. A economia solidária traz a tona o debate do trabalho, da alienação, das relações de cooperação e competição, da capacidade de gestão dos trabalhadores, das diferentes culturas e construção da existência, da viabilidade de uma economia não capitalista, de uma sociedade não capitalista.

Bases da economia solidária

A economia solidária é um fenômeno social que possui um determinada composição social. Fazem parte dessa composição dois segmentos bem definidos: Os empreendimentos solidários e as entidades de apoio.

Os empreendimentos solidários são compostos por trabalhadores que não encontram saídas individuais que dêem sustentação e segurança no mercado de trabalho, com as profundas alterações que o mundo do trabalho tem sofrido têm uma alternativa na economia solidária. A decomposição do mercado de trabalho, segundo sua organização nas últimas quatro décadas do século passado, estabelece um futuro em que a carteira assinada deixa de ser uma perspectiva para todos. Esse setor não tem uma perspectiva totalizante e estratégica para a economia solidária, nem a incorporação dos princípios e conceitos fundamentais. Seus objetivos estão, em princípio, associados à geração do trabalho e da renda, e dessa forma que a economia solidária torna-se uma realidade substancial.

As entidades de apoio são as organizações não governamentais, universidades, entidades sindicais e religiosas, agentes de políticas públicas que desenvolvem ações visando o apoio técnico e político aos empreendimentos solidários. Participam intelectuais orgânicos e militantes sociais na perspectiva de construção de movimento social na economia solidária a partir de uma concepção ou idéia de mundo ou conjuntura, e pretendem, com isso, realizar mudança social. Esses atores projetam uma perspectiva totalizante e estratégica para a economia solidária.

A síntese das relações entre os dois segmentos é a práxis da economia solidária. A economia solidária não se realiza sem um dos dois setores, e se ocorresse, se descaracterizaria na sua atual formatação. Portanto, quanto mais intensa for a integração entre os dois segmentos, mais forte e consistente será a atividade econômica, social e política da economia solidária. Ao contrário senso, quanto mais desequilibrado ou fragmentado, mais frágil será nos aspectos econômico, social e político.

Trabalhador opta pela economia solidária

A economia solidária não é a primeira opção do trabalhador(a). Na impossibilidade do trabalho assalariado, ao trabalhador resta a busca por alternativas ao desemprego. Entre elas, a mais complexa é a do trabalho associado por envolver a gestão coletiva – a autogestão; A atuação de diferentes movimentos sociais e associativos e a ação sistêmica das entidades de apoio propicia as oportunidades de inserção na economia solidária.

A disciplina totalitária, a intensa exploração e a hierarquia praticada com violência e falta de respeito à condição da pessoa nas empresas capitalistas são elementos que têm se demonstrado um forte estímulo a adesão de trabalhadore(a)s à economia solidária.

Cultura do trabalho

Considerando o universo empírico da pesquisa, analisando o trabalhador(a), a cultura do trabalho anterior – trabalho formal – é a da alienação quanto categorias chaves na compreensão do trabalho associado presente. O trabalho é alienado, no modo de produção capitalista, do resultado produzido; da gestão da empresa e do negócio; do conhecimento da técnica e da tecnologia; e do conhecimento do mercado e da economia.

Essa cultura do trabalho alienada é combinada com a natureza subordinada da relação com o gerente da empresa – patrão ou seu delegado – que assume todas as tarefas do negócio, cabendo ao trabalhador cumprir sua tarefa específica ordenada.

A experiência do trabalho formal e informal individual traz consigo a síntese da alienação e da subordinação.

A Passagem

Na discussão sobre autogestão e seus possíveis modelos, está inserida a questão sobre quando um empreendimento torna-se autogestionário. A práxis da economia solidária – o debate teórico e as experiências dos empreendimentos solidários na atividade econômica concreta têm demonstrado o caráter processual da autogestão.

Na passagem da fase da venda da força de trabalho para o trabalho associado, em função da ausência de alternativa de oferta no mercado de trabalho, ocorrem mudanças sociologicamente e economicamente importantes. A força de trabalho passa a não ser mais uma mercadoria que é vendida no mercado de trabalho. Embora ocorra na escala do empreendimento e do trabalhador, e não na escala da sociedade, ocorre uma mudança qualitativa no processo de extração da mais-valia e do fetiche da mercadoria. Portanto, operam processos nos níveis estruturais e ideológicos.

Na passagem para a trabalho associado, a autogestão passa a ser praticada. Um processo tem início com diferentes possibilidades de desdobramentos. É um campo sociológico a ser investigado.

Novas exigências do trabalho na autogestão

Na autogestão a natureza do trabalho modifica qualitativa e quantitativamente. Da tarefa específica do trabalho alienado, o trabalhador coletivo associado tem uma gestão complexa sob sua responsabilidade:

– Organização da produção;

– Planejamento e gestão das estratégias da empresa;

– Realização das vendas.

A autogestão tem princípios gerados pela prática de relações democráticas entre o(a)s trabalhadore(a)s; e pela interação de projetos estratégicos de sociedade entre trabalhadores e intelectuais orgânicos das entidades de apoio patrocinados por estas.

Entre este princípios, podem-se destacar alguns que têm efeito direto sobre a atuação do empreendimento solidário:

– Todos que trabalham devem ser proprietários da Empresa;

– As diferenças de retiradas são pequenas;

– As decisões e gestão são participativas e coletivas;

– A prioridade é gerar ocupação e renda para todos que trabalham, e não o lucro capitalista;

– A cooperação e a solidariedade são instrumentos de trabalho.

Redes e capitalismo

Os princípios praticados e o modelo organizativo da autogestão e da economia solidária são antagônicos ao padrão hegemônico capitalista. A dinâmica do mercado está voltada para empresas organizadas hierarquicamente de forma vertical – a partir de um comando central único abre-se por especializações – baseada em uma disciplina autocrática cujo objetivo é a máxima taxa de lucro e reprodução do capital. Os trabalhadores são organizados, utilizados e dispensados de acordo com esses objetivos.

A atuação de empreendimentos solidários em um mercado com regras estranhas a suas características exigem estratégias específicas para a obtenção dos objetivos de geração de ocupação e renda.

A busca de resultados cria a necessidade da atuação em redes de cooperação solidária para ganhos em escala e de escopo frente à concorrência capitalista. Existem algumas redes de economia solidária organizadas no Brasil. Praticamente todas se caracterizam por articulação política e trocas de experiências. As redes que priorizaram a atividade econômica acentuam um caráter endógeno, concentrando sua atuação no consumo solidário interno aos participantes da rede.

São raras as experiências de redes de economia solidária organizadas para à atividade econômica no mercado.

II. O problema a investigar

No cenário descrito, com as variáveis apresentadas, a pesquisa procurou ampliar a compreensão sobre as contradições enfrentadas pelos empreendimentos solidários – trabalho associado – para , através da autogestão, obter resultados econômicos e realizar os princípios da economia solidária, tendo como experiência acumulada a cultura da alienação e da subordinação do trabalho assalariado.

As hipóteses

O estudo partiu da hipótese de que a autogestão, no estágio atual de cultura, experiência e inserção do trabalhador(a) no mundo do trabalho, se realiza com uma complementação exterior aos empreendimentos solidários, através das redes de cooperação solidárias quando estes interagem com as entidades de apoio e enquanto realizam ações concretas no mercado.

A prática da autogestão se inicia assim que se suspende a venda da força de trabalho, e se tem o início da aglutinação do trabalho associado para a construção de um empreendimento solidário. As tarefas da gestão coletiva e a necessidade da construção de um sujeito coletivo abrem, de fato, o processo de alterações no trabalho.

A autogestão se caracteriza por ser um processo contraditório de idas e vindas, com avanços e retrocessos em função da colisão sistemática com o modo operante hegemônico capitalista no mercado, em que tem o início da desalienação gerada pelo trabalho assalariado e a ruptura com a antiga ordem hierárquica.

A autogestão é um processo que só tem continuidade e desenvolvimento, sofrendo mudanças de quantidade e qualidade a partir da efetiva realização da atividade econômica pelos empreendimentos solidários. Os princípios que norteiam a autogestão apenas são experimentados pelos trabalhadores com a ação na atividade econômica.

A atuação isolada dos empreendimentos solidários no mercado tende a levá-los a uma descaracterização. A pressão pela adaptação às formas hegemônicas de modelos organizativos e padrões de organização – homogeneização dos formatos – tende a levar os empreendimentos solidários para uma reestruturação capitalista ou para a sua morte enquanto unidade econômica.

No atual estágio de construção dos empreendimentos solidários e da cultura do trabalho, a organização em redes de cooperação solidária voltadas para a atividade econômica podem ser as formas mais eficientes para obterem resultados e realizarem os princípios da economia solidária. Os empreendimentos solidários atuando e protegidos em redes aumentam sua escala e seu escopo, viabilizando ambientes propícios para o desenvolvimento do processo de autogestão.

III. Estágio teórico da economia solidária no Brasil

Origens do cooperativismo

A literatura é consensual sobre as origens do trabalho associado, base da autogestão. Inicia com as Comunidades Cooperativas do socialista utópico Robert Owen no início do séc. XIX na Inglaterra(NOËLLE:s.d.)

Formam-se as primeiras cooperativas de trabalho como resistência á exploração em 1823 e 26 na França e Inglaterra(SINGER:2002). Em 1844 surge a 1ª cooperativa de consumo em Rochdale, na Inglaterra. Com as derrotas das revoluções da déc. De 50 na Europa, as cooperativas de trabalho são destruídas. Em 1864, a Cooperativa de Rochdale torna-se uma empresa capitalista.

No Brasil, o cooperativismo teve muita força no início da industrialização, no séc. XX, com a forte presença dos imigrantes anarquistas e libertários. Esta tendência sofreu um revés com a fundação do Partido Comunista, do Estado Novo e, mais tarde, com a Ditadura Militar e a guerrilha (NASCIMENTO: s.d.). Apenas o cooperativismo rural construiu uma dinâmica de sustentação.

Apresenta-se na literatura da economia solidária uma lei geral consensual que aponta para o crescimento das experiências de cooperativismo, autogestão e economia solidária em cada momento de crise do capitalismo, assim como um refluxo das atividades solidárias em períodos de crescimento das taxas de emprego e renda(NOËLLE:s.d.).

O final da Ditadura militar e ascensão dos movimentos sociais permitiu a gradativa constituição de entidades baseadas na sociedade civil. A construção de um programa de transformações democráticas e populares para o Brasil cria a tensão com a crise social gerada pelo desemprego estrutural.

Nesta mudança de século, a economia solidária passa a ter força como alternativa de política publica para o emprego. Torna-se uma alternativa de política para órgãos financiadores que podem combinar o investimento em políticas sociais e a geração de trabalho e renda. Surge também como um estímulo à organização comunitária e aplicação de outras políticas sociais.

O cooperativismo e a autogestão surgem com força, em particular nos setores dos trabalhadores urbanos, durante as crises econômicas de desemprego, e tendem a refluir com a retomada do crescimento econômico e o pleno emprego. Esta dinâmica passa a ser o desafio para a economia solidária que pretende ser um projeto de longo prazo.

Tipologia das linhas de pensamento da economia solidária no Brasil

Para a melhor compreensão do debate sobre a economia solidária e a autogestão no Brasil, constituiu-se uma tipologia de referência para a classificação dos autores que sintetizam campos de pensamento capazes hoje de influenciar e orientar a ação das entidades de apoio e os empreendimentos solidários.

IV. Fluxograma das linhas de pensamento da economia solidária no Brasil

Trabalho não capitalista

A literatura estudada é consensual quanto à noção de que o trabalho na economia solidária é de natureza não capitalista. Não há a venda da força de trabalho. Não há a expropriação da mais-valia dentro da empresa e há a apropriação dos meios de produção, da gestão e dos resultados. Pratica-se uma cultura da cooperação e solidariedade e não da competição e do individualismo. Embora se mantenha a expropriação da mais-valia no sistema geral, ocorrem mudanças no empreendimento e nas redes e sistemas articulados pela economia solidária.

Dois tipos de estratégia frente ao capitalismo

Os autores podem ser classificados em dois tipos quanto a visão da relação da economia solidária com o modo de produção capitalista.

Um primeiro tipo conceitua a economia solidária como um movimento econômico, social, cultural e político, baseado no trabalho não capitalista, que acumula forças no sentido do enfrentamento e ruptura com o capitalismo, buscando sua derrubada e substituição.

Um segundo tipo conceitua a economia solidária como um movimento econômico, social, cultural e político, baseado no trabalho não capitalista, que acumula forças internas em uma convivência estratégica com o capitalismo, projetando sua superação sem, no entanto, apontar com a ruptura.

Ruptura com o capitalismo

O autor de maior destaque nesta tipologia é o professor PAUL SINGER que defende a economia solidária como modo de produção construído no conflito com o sistema capitalista(SINGER:2002).

Atual Secretário Nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho do Governo Lula, secretaria recém fundada, se constitui hoje no intelectual mais respeitado na elaboração teórica sobre a economia solidária.

As bases desse novo modo de produção estão na propriedade coletiva ou associada do capital (ibidem). Essa propriedade está relacionada ao direito à liberdade individual e a existência de uma única classe de trabalhadores. Para Singer, o resultado natural desta estrutura de modo de produção é a solidariedade e a igualdade.

O autor considera que, mesmo sendo a economia organizada na base de cooperativas, o desempenho delas tende a ser diferenciado causando, com o tempo, resultados e acumulações diferentes. Para tanto, torna-se necessário a existência de mecanismos estatais de redistribuição de renda a partir da presença de um Estado forte com capacidade de intervenção na economia.

Singer faz a crítica de propostas para a economia solidária que a coloquem em circuitos fechados. Defende uma ação no mercado como um meio de fortalecimento das empresas autogestionárias e solidárias. Ao mesmo tempo, estar demonstrando uma alternativa concreta, principalmente nos interstícios do capitalismo, suas crises cíclicas, momentos fundamentais de acumulação de forças(ibidem). Para tanto os empreendimentos solidários devem ser capacitados e eficientes, obtendo resultados concretos no mercado.

Uma segunda linha de pensamento, incluída no tipo ruptura com o capitalismo, é desenvolvida por CLÁUDIO NASCIMENTO, teórico e capacitador em autogestão. O autor defende uma teoria baseada em uma visão totalizante do conflito entre a autogestão e o capitalismo. Parte da história do cooperativismo, assim como os demais autores, porém concentra sua interpretação sob a ótica da autogestão, incluindo outras esferas históricas como a experiência da Comuna de Paris e o Governo de Josef Tito, na Iugoslávia, ambos de natureza autogestionárias.

Para Nascimento(NASCIMENTO: s.d.), a integração de um conjunto de experiências, práticas e ações de autogestão, sustentadas por movimentos políticos sociais pode gerar a ruptura com o capitalismo e construir o socialismo autogestionário.

A economia solidária constitui-se em uma experiência de autogestão em que os trabalhadore(a)s assumem para si a propriedade dos meios de produção e o destino da gestão coletiva da empresa. É uma experiência emancipadora e contribui decisivamente na construção do socialismo autogestionário.

A diferença básica de Nascimento para Singer é considerar a economia solidária uma das experiências de autogestão entre outras que irão construir o modo de produção pós-capitalista. Enquanto para Singer o novo modo de produção está baseado na economia solidária e o papel do novo Estado é a regulação desta nova economia, para Nascimento, teremos um Estado autogestionário, integrado por diferentes experiências multisetoriais, entre elas a economia solidária, sendo esta então parte da sociedade.

Alternativa que convive com o capitalismo

LUIS INÁCIO GAIGER é pesquisador da universidade e faz a crítica a Paul Singer e outros autores por não visualizar nos empreendimentos da economia solidária possibilidade de estarem gerando um novo modo de produção e todas as suas relações complexas. Usa como base a teoria da transição de Marx entre as formações sociais e os modos de produção, não vendo nas atuais condições do capitalismo o esgotamento das suas forças produtivas vistas do ponto objetivo e subjetivo(GAIGER(1):s.d.).

Caracteriza a economia solidária a partir dos empreendimentos porque seus dados empíricos demonstram baixo índice de interação entre eles. Nos empreendimentos solidários o funcionamento é com base na propriedade social dos meios de produção. O controle e o poder de decisão pertencem à sociedade dos trabalhadores em paridade de direitos. A gestão está presa à comunidade de trabalho que organiza a produção, opera as estratégias econômicas e dispõe sobre o excedente produzido.

Segundo Gaiger, para a economia solidária ser um novo modo de produção, ela teria que estar apontando uma nova lógica de desenvolvimento, impulsionada sob o capitalismo – ainda que não por ele – que seria mais bem correspondida por relações sociais de um novo tipo, no caso, as baseadas no labor associado dos trabalhadores. E a economia solidária não está nem perto disso ainda.

Os empreendimentos solidários expandem-se mas são débeis. Experiências de redes e sistemas são experimentais: valem pelo seu significado intrínseco, não pelo seu impacto. O intercâmbio econômico é muito baixo, assim como a relação com o mercado.

Os empreendimentos solidários estão aptos a credenciarem-se como formas consistentes de vida econômica. Porém, a economia solidária não se constitui em uma alternativa ao capitalismo(ibidem).

A adesão dos trabalhadores às praticas de cooperação e reciprocidade ocorre por verem atendidos mais plenamente seus interesses pessoais, residindo aí a importância da demonstração da superioridade da forma social de produção solidária diante das alternativas postas ao trabalhador. Da percepção dessa simbiose entre interesses próprios e alheios, nasce o interesse comum, base da ação de classe, entre indivíduos similarmente situados no processo de produção da vida material.

Outro autor de reconhecimento internacional é o pensador BOAVENTURA DE SOUZA SANTOS defensor de uma emancipação social não capitalista, porém que não se dá em um contexto de ruptura social, econômica e política.

O professor Boaventura coordenou uma pesquisa internacional de grande monta, envolvendo uma equipe de pesquisadores de diversos países, cujo tema central é a reinvenção da emancipação social. Foram produzidos sete volumes de diferentes temas, entre eles o tema da produção para viver, os caminhos da produção não capitalista(SANTOS:2002). Aqui se desenvolve a temática da economia solidária e demais denominações que recebe pelo mundo.

Para Boaventura, a economia solidária, com suas relações intrínsecas e extrínsecas, está desenvolvendo as relações do futuro, são interações de emancipação social. Isto ocorre em um processo de acumulação e não de ruptura, porque há as interações dos movimentos sociais com o mercado e as políticas públicas. Assim podem ser construídas novas práticas, novos espaços, novas dinâmicas que acumulem para a emancipação social que deve ser reinventada.

As alternativas de produção não capitalistas como a economia solidária só pode sustentar-se e expandir-se quando entram em um círculo virtuoso com alternativas econômicas e outros campos sociais. Portanto, para Boaventura, a economia solidária não pode colaborar isoladamente. Ela de fato interfere no processo social e torna-se uma alternativa de produção não capitalista caso interaja com outras relações econômicas e outros campos sociais.

Com uma linha destacada neste tipo, o pensador EUCLIDES MANCE defende a formação de um modo de produção pós-capitalista com base economia solidária por meio de redes de colaboração endógenas(MANCE1:2002).

Mance aponta para aglutinação dos empreendimentos solidários em atividades econômicas que atendam as necessidades dos próprios grupos enquanto consumidores. Para tanto aplica o conceito de consumo solidário. A troca de conhecimento e tecnologias e a regulação dos custos internos podem impulsionar economicamente o desempenho da rede. Mance propaga pela adesão e organização de novas células de produção e consumo solidário aumenta a força econômica e de atração garantindo cada vez mais a sustentabilidade das redes.

A implantação das redes traz consigo um consumo ético, voltado para o respeito à natureza como a garantidora da vida do planeta e da relação solidária entre as pessoas. A estruturação das redes pressupõe a não interação com o mercado capitalista, o que significaria repassar valor à exploração.

Mance prevê no crescimento das redes de colaboração a possibilidades de atingir a escala internacional, tornando-se assim um sistema alternativo geral para o planeta.

A última corrente de pensamento nesse tipo que tem significância na economia solidária é bem representada pela escola da ECONOMIA SOLIDÁRIA FRANCESA. País, que durante o governo do Partido Socialista chegou a ter um Ministério da Economia Solidária, tem buscado intenso intercâmbio com a experiência brasileira nos níveis teórico e prático.

A literatura francesa vê a economia solidária como geradora de novas práticas como o comércio justo e a finanças solidária a partir de políticas públicas compensatórias frente ao desemprego estrutural. A economia solidária é uma política pública inserida na gestão dos problemas inerentes ao mercado capitalista. A busca por viabilizar financiamentos com spread baratos e qualificar os produtos do autotrabalho estão inseridos em uma visão de nova inserção da população excluída. Isto oportuniza geração de renda, movimentação da economia e desenvolvimento para o país.

É uma ocupação dos espaços desestruturados pelo capitalismo para a reintegração da população. A economia solidária, sob este ponto de vista, não tem uma lógica de conflito global com o sistema capitalista. Ela é geradora de novas práticas não capitalistas que podem inovar na construção de novos cidadãos (UILLE D’ORSEUIL:2002).

Conceitos da autogestão

A literatura discute o conceito de autogestão sob dois pontos de vista: como técnica de administração setorial; e como gestão coletiva de trabalhadores. Para este trabalho interessa a segunda discussão. Para tanto estão citadas algumas passagens que sintetizam o pensamento dos autores:

Singer: “Empresa solidária que se administra democraticamente, as ordens e instruções devem fluir de baixo para cima e as demandas e informações de cima para baixo.” (SINGER:2002).

Albuquerque: “O conjunto de práticas sociais que se caracteriza pela natureza democrática das tomadas de decisão, que propicia a autonomia de um ‘coletivo’.” (ALBUQUERQUE:2003).

Albuquerque: “A essência desta prática social está fundada na repartição do poder, na repartição do ganho, na união dos esforços e no estabelecimento de um outro tipo de agir coletivo que tem na cooperação qualificada a implantação de um outro tipo de ação social.”(ibidem).

Debaco e Tauile: “A autogestão, …, pode ser vista hoje, como uma radicalização deste processo[pós-fordismo] de devolver ao trabalhador parte daquilo que o capitalismo lhe foi tomando ao longo de séculos. Ao se recuperar coletivamente o saber produtivo, …, se está dando um passo na direção de reduzir ou mesmo, no limite, superar o que Marx chamou de subsunção real do trabalho.”(TAUILE&DEBACO: s.d.).

V. Como a pesquisa foi desenvolvida

Contexto da pesquisa e do pesquisador

O campo empírico é a participação da economia solidária no FSM/2003. O pesquisador é coordenador da ONG GUAYÍ, gestora de projeto da economia solidária no FSM/2003. Como coordenador da Rede de Economia Solidária/FSM2003, realizei a pesquisa.

A Guayí é uma ong que foi credenciada com Oscip – organização social de interesse público – pelo Ministério da Justiça. Tem por objetivo atuar junto ao movimento social para prestar apoio, assessoria, formação e educação especial para a autogestão nas áreas da economia solidária e trabalho, democracia participativa e estudos e políticas de gênero.

Para a realização da pesquisa, foram utilizados diferentes métodos e técnicas:

– A observação crítica permanente de todo o processo;

– Realização de oficinas de planejamento e avaliação do processo;

– Entrevistas e questionário;

– Revisão de documentos e contabilidade;

– Revisão bibliográfica.

Histórico da pesquisa

A Guayí propõe ao GT nacional da economia solidária que suas atividades econômicas se estendam para todo o Fórum em 2003. O planejamento inicial indicava que estavam restritas aos debates políticos e ao acampamento da juventude.

O GT nacional foi formado pelas entidades de apoio já caracterizadas, formado pela Secretaria Estadual de Desenvolvimento e Assuntos Internacionais – Sedai/RS; IBASE; FASE; PACS; Cáritas/Br; Unitrabalho; Rede de Incubadoras de Cooperativas Tecnológicas Universitárias; ANTEAG; ADS/CUT.

O Comitê Organizador Brasileiro(COB) FSM/2003 aceita proposta do GT nacional da economia solidária.

11 de setembro: É convocada uma plenária para todas as entidades de empreendimentos solidários e de apoio com o objetivo de discutir a participação da economia solidária no FSM/2003 e analisar a proposta de formação de uma rede de cooperação solidária apresentada pela Guayí. A plenária se realiza com 82 pessoas e 40 entidades presentes, funda a Rede de Economia Solidária e elege um conselho que deve animar seu funcionamento. Este conselho, por sua vez, elege uma executiva com a responsabilidade pelas tarefas administrativas da rede.

23 de novembro: É realizado um seminário com a presença de 209 pessoas, 102 empreendimentos e 10 entidades de apoio com o objetivo de organizar as encomendas, a produção e o processo de vendas no FSM/2003. É definido o método de autogestão da rede, baseado nos GT’s setoriais que elegem coordenações componentes da nova executiva ampliada. Os GT’s são responsáveis pelo planejamento, produção e vendas. A executiva é responsável pela infra-estrutura, logística, propaganda, finanças e política institucional.

05 de janeiro: depois de significativo atraso, em função da definição dos recursos dos organizadores, define-se contrato das bolsas entre a Rede e o COB FSM/2003. A Rede de Economia Solidária assinou um contrato com o COB FSM 2003 para a produção de 30.000 bolsas dos delegados do Fórum e 800 camisetas para os trabalhadores do COB, no valor de R$ 140.000,00, a serem pagos em três parcelas, quando da assinatura, da entrega, e 15 dias após o Fórum.

Tendo a Rede de Economia Solidária no FSM2003 como campo empírico geral, é a realização desse contrato com o COB/FSM2003 o objeto de estudo específico desta pesquisa. O planejamento e a organização para a produção; a produção e a entrega; o recebimento do pagamento e a divisão são os objetos de análise.

A Rede de Economia Solidária foi organizada para o FSM2003. A experiência gerou uma nova rede – EMREDE – originária das atividades concretas nas áreas da confecção – produção das bolsas e camisetas – alimentação e artesanato no Fórum. Foi aplicado um questionário em trabalhadores de empreendimentos da EMREDE sobre pontos destacados nesse estudo.

VI. Das Entidades de Apoio aos Empreendimentos Solidários.

Atuação da Entidades de Apoio

Neste capítulo, será analisado o modelo de ação das entidades de apoio. Como parte constituinte da economia solidária, esta análise procura ser desenvolvida a partir da relação entre o apoio ofertado aos empreendimentos e as necessidades objetivas dos empreendimentos solidários.

No processo do FSM2003, foram selecionados três instâncias coordenadoras legitimadas pelos atores da economia solidária: GT’s nacional e gaúcho, Comissão Organizadora pela Construção do Fórum Gaúcho de Economia Popular Solidária. São instâncias que reúnem os esforços coletivos de empreendimentos solidários e entidades de apoio no fomento e organização da economia solidária.

Realizando o somatório das entidades componentes das três instâncias de forma aleatória teremos o total de 23 entidades. Destas 23, duas delas são representantes de empreendimentos e 21 são representantes de entidades de apoio. O resultado, para efeito de comparação, é que a participação das entidades de apoio nos três organismos de direção da economia solidária significa 91%.

Agora observe o crescimento da participação política da economia solidária no FSM:

Há um nítido crescimento na ocupação dos espaços políticos no interior do Fórum. A economia solidária passa a ser um tema atual. As instâncias aglutinadoras que animam a economia solidária transformam em organização e debate político, um espaço de reflexão e crescimento sobre as idéias e as trocas de consciências entre as pessoas que atuam no tema.

O projeto das 9 entidades de apoio que compõe o GT nacional era, além dos debates, investir na juventude, com a autogestão do acampamento e a concentração econômica da economia solidária neste espaço.

A oportunidade de negócios envolvendo todo o Fórum, interesse econômico objetivo dos empreendimentos solidários, colidia com as prioridades políticas. Esta situação tornou-se um foco de tensões, gerando dois centros autônomos de movimento através das comissões de trabalho:

Centro vinculado aos debates políticos: organização da participação da economia solidária nas conferências, painéis, seminários, depoimentos, oficinas, sessões de autógrafos.

Centro vinculado às articulações econômicas: articulação da infra-estrutura, organização da participação dos empreendimentos solidários nas vendas do Fórum, busca de financiamento, assessoria para a gestão, oportunidades de negócios com as demandas dos organizadores.

Durante o processo houve uma migração da maioria das entidades de apoio e seus técnicos para o centro de debate político, com investimento financeiro, material e humano.

Houve um esvaziamento da participação das entidades de apoio na autogestão da Rede – articulação econômica. Observe o quadro:

Participação na Rede

Entidade de apoio

Empreendimento

Plenária de fundação 25 15

Semin. de organização 10 92

FSM 2003 3 375

Conclusões sobre as Entidades de Apoio

O estudo apontou para a inobservância, por parte de significativo contingente de entidades de apoio, do cenário de diversificadas oportunidades de negócios para os empreendimentos solidários em um ambiente – FSM2003 – altamente favorável à economia solidária.

Mesmo após ficar patente o desejo externado por muitos empreendimentos solidários em participar da Rede com o objetivo da atividade econômica. Mesmo com a demonstração concreta das oportunidades de negócios com sua concretização. Ainda assim as entidades de apoio tiveram uma trajetória descendente na participação no que se refere ao apoio aos empreendimentos solidários na atividade econômica.

As entidades de apoio, na maioria, dependem de financiamentos correntes e, com a mudança no governo estadual, houve problemas de recursos financeiros.

Por outro lado, foram apresentados sinais de dificuldade com a convivência política diversificada na ação voltada para a atividade econômica. A resultante na atividade econômica modifica o equilíbrio estabelecido nas relações da esfera política.

Ficou assim demonstrado que o apoio ofertado pelas entidades de apoio ocorre estruturalmente de forma exógena à atividade econômica dos empreendimentos solidários. Não são estabelecidos vínculos orgânicos entre um acompanhamento contínuo e a inserção dos empreendimentos solidários em seus ramos de atividades econômicas.

Este fator (apoio exógeno) é inibidor da formação de redes de cooperação para a ação na atividade econômica, devido à ausência da complementação técnica necessária nas variáveis de gestão coletiva endógena à rede e de oportunidades de negócios exógenos à rede. Na medida em que a entidade de apoio não tem este vínculo contínuo construído a partir da atividade econômica setorial do empreendimento, as conexões setoriais ficam na dependência apenas do empreendimento solidário, sem a potencialização da interação necessária com a entidade de apoio para a realização da economia solidária.

As prioridades definidas pelas entidades de apoio, na sua maioria, não são influenciadas pelas necessidades objetivas de resultados econômicos dos empreendimentos acompanhados, devido ao perfil descrito acima deste apoio exógeno à atividade econômica.

Estes indicadores apresentados sobre a atual política das entidades de apoio na economia solidária são demonstrativos de que, mantidos no atual estágio, se constituem em fatores inibidores do desenvolvimento econômico dos empreendimentos solidários.

VII. Dos empreendimentos solidários

Organização da Rede

O padrão de interação social com os empreendimentos solidários passa pelas entidades de apoio. Para a maior parte dos contatos sociais, econômicos e políticos dos setores exteriores à economia solidária com os empreendimentos solidários ocorrem por intermédio das entidades de apoio. Existe pouca interação entre os empreendimentos, sendo que boa parte dos empreendimentos solidários de uma mesma região não se conhece. A exceção parcial fica por conta dos empreendimentos solidários do Fórum Metropolitano de Economia Solidária, que agrega um conjunto de cidades. É parcial porque conta com um forte apoio da Prefeitura de Porto Alegre, através da Secretaria Municipal de Produção, Indústria e Comércio – Smic – e está incorporando a participação de mais entidades de apoio.

Esta é uma situação decorrente das condições materiais dos empreendimentos e da experiência acumulada de isolamento social. Os empreendimentos solidários dependem de estrutura, equipamentos, recursos e conhecimento para uma interação mais amplificada com a atividade econômica e com a sociedade em geral.

Esta situação de razoável dependência unilateral estabelece canais políticos de relacionamento com os empreendimentos, levando a uma espécie de seleção do contato e da informação. A economia solidária fica sujeita a uma estratificação de comunicação entre empreendimentos, entidades de apoio e outras esferas sociais, mediadas pelas relações políticas.

A organização do Seminário de Organização do dia 23 de novembro, com uma ampla participação dos empreendimentos solidários revelaram um fluxo informal de comunicação entre empreendimentos solidários, para além das entidades de apoio. A oportunidade de negócio foi o grande mobilizador dos empreendimentos, ampliando o círculo da economia solidária, atraindo novos grupos e tornando-a mais heterogênea.

Estrutura da Rede de economia solidária

Comitê composto por 35 entidades.

Tipo de entidade quantidade percentual

Empreendimentos 11 31%

Apoio sociedade civil 16 46%

Apoio governos 8 23%

O somatório das entidades de apoio no comitê eleito resulta em 69%.

Executiva composta por 7 entidades:

Tipo de entidade quantidade percentual

Empreendimentos 3 43%

ONG 2 28,5%

Governos 2 28,5%

O somatório das entidades de apoio na executiva eleita resulta em 57%.

Foram organizados os Grupos de Trabalhos – GT’s – autogestionários, responsáveis pelo planejamento da produção, pela produção e pelas vendas. Assim foram constituídos:

Alimentação

Artesanato

Confecção

Kit/delegado (responsável pelo contrato das bolsas)

Como a instância máxima, que reúne a todos, foi instituída a Plenária dos empreendimentos solidários da Rede. Uma instância de deliberação e mobilização. Foi nesta instância que as decisões construídas entre as diferentes reuniões e atores eram institucionalizadas na rede até o momento do início do Fórum. Caracterizou-se também como um momento de troca de informações, espaço de engajamento na Rede e de mobilização.

Estrutura e fluxo da Rede de economia solidária:

Período do planejamento

Período da produção

Período das vendas no FSM

Fases do Fluxo de funcionamento da Rede de Economia Solidária

PLANEJAMENTO: Nesta fase os empreendimentos mantinham uma postura receptiva às propostas e iniciativas da executiva quanto a: Concepção, layout, comunicação, custo, crédito, patrocínio, política institucional, organização e funcionamento, marketing geral da Rede. Havia uma adesão às propostas com o objetivo de incluir-se no processo.

PRODUÇÃO: Com as propostas acordadas nas instâncias da Rede, os empreendimentos iniciavam um processo de autogestão da sua produção e seus espaços próprios de vendas.

VENDAS: Rede funciona em um regime profissional: Autogestão nas 12 praças da economia solidária com supervisão da executiva; Nível de centralização alto na executiva, equipada e com poder de decisão. Atuou reduzida a três membros. Durante a execução ocorreu gradativamente um processo forte de redução da atuação das entidades de apoio na direção e execução das tarefas de autogestão da Rede.

No FSM2003, há uma exigência acima do padrão dos empreendimentos solidários, exigindo grau máximo de produtividade, testando todos os seus limites. Na sua maioria, atuaram sem apoio técnico. Os resultados foram heterogêneos refletindo a própria composição inicial dos empreendimentos.

No FSM2003, se apresentou um paradoxo para a economia solidária. Por um lado, havia um contingente significativo de agentes técnicos e políticos das entidades de apoio participando nos debates políticos da economia solidária. Por outro lado, havia um contingente significativo de empreendimentos solidários atuando na atividade econômica sem o apoio técnico e político adequado para a situação. Esta situação foi criada sem a construção de um acordo para isto.

Resultados produzidos pela Rede:

Estandes – juventude e Puc – 286

Estandes – gigante e cais(privada) – 89

Bolsas delegados – 27. 687

Camisetas trabalhadores – 1.060

Contrato bolsas – R$ 130.000,00

Folder Rede – 15.000

Selos economia solidária – 40.000

Banners sinalizadores – 50

Financiamentos – 39

Preços praticados para aquisição de estandes

Os preços das estandes para a economia solidária tiveram, pela primeira vez, diferenças significativas. A Rede assumiu a responsabilidade por parte da infra-estrutura, que estava sob a responsabilidade do COB FSM2003. A parte que estava sob a responsabilidade da Prefeitura de Porto Alegre foi realizada por uma empresa privada contratada. A diferença de preço está nos custos da intermediação da empresa privada contratada pela Prefeitura.

þ Artesanato Alimentação Alimentação Puc

Rede R$ 150,00 R$ 200,00 R$ 400,00

Privado R$ 560,00 R$ 850,00

Desempenho financeiro da Rede

A Rede, em sua operação obteve um déficit operacional:

RECEITA:

Estandes – Puc – juventude R$ 37.256,21

Apoio COB/FSM2003 R$ 20.000,00

Patrocínio Banrisul R$ 10.000,00

Montagem juventude R$ 6.469,00

Total (1): R$ 73.725,21

DESPESA:

Infra-estrutura Puc R$ 36.804,24

Comunicação R$ 16.300,00

Gestão R$ 20.880,00

Montagem juventude R$ 4.410,00

Total (2) R$ 78.394,24

TOTAL (1-2) ( – ) R$ 4.669,03

A operação financeira da Rede partiu do recolhimento dos valores dos estandes através de uma conta corrente aberta em nome de três pessoas da executiva especificamente para este fim.

Considerando a receita, a sustentação financeira da Rede teve esta distribuição de origem:

Origem percentual

Recursos dos empreendimentos: 51%

Apoio COB/FSM2003 27%

Patrocínio Banrisul: 13%

Apoio Prefeitura POA 8%

Obs: a Prefeitura financiou diretamente parcela considerável da infra-estrutura da juventude.

As operações com a infra-estrutura; liberação do crédito e patrocínio do Banrisul; apoios do COB/FSM e Prefeitura de POA; comunicação; e contrato com o COB ficaram sob gestão direta da executiva, já na fase da produção. Esta já estava com uma composição reduzida à quatro entidades: Guayí, Coolméia, Metroplan e Prefeitura-Smic.

O estudo apontou duas características que se destacaram no funcionamento da Rede:

Os empreendimentos aderiram à oportunidade de negócio, agregando se de forma solidária e acrítica ao processo de gestão. A gestão era tarefa dos “organizadores” da Rede. Aos empreendimentos cabia produzir e vender, ou seja, melhor aproveitar a oportunidade de negócio.

As entidades de apoio, na sua maioria, apresentaram um padrão de acompanhamento aos empreendimentos exógenos à sua atividade econômica e, na medida em que uma oportunidade de negócio entrou em conflito com a prioridade política, gerou um paradoxo na relação. A participação das entidades de apoio foi inversamente proporcional à participação dos empreendimentos solidários na Rede de economia solidária.

VIII. Do contrato com a Abong e o COB FSM2003

Foi assinado um contrato entre 11 empreendimentos solidários, representados pela Assmusol – Vila Cruzeiro e o COB/FSM2003 para a entrega de 30.000 bolsas e 800 camisetas até o dia 22 de janeiro de 2003, no valor de R$ 140.000,00. As testemunhas do contrato eram representantes da Guayí.

O resultado final foi 9 empreendimentos solidários, com o apoio de uma pequena empresa de serigrafia e a Guayí entregaram até o dia 26 de janeiro 27. 687 bolsas e 1060 camisetas, recebendo R$ 130.000,00.

A implantação da estratégia do negócio, organização da produção e entrega da encomenda obedeceu a seguinte divisão do trabalho entre os empreendimentos solidários e a entidade de apoio:

Guayí – entidade de apoio Empreendimentos

Negociação com COB Definição dos materiais

Apoio técnicos nas decisões dos grupos Definição do processo produtivo

Recebia a supervisão do COB Compra dos demais insumos

Renegociou contrato com COB Corte e Costura

Cobrança do COB Serigrafia

Compra insumo principal; Controle de qualidade

Logística da produção entre os grupos – transporte do produto agregado. Gestão de pessoal

Controle de qualidade. Definição do preço final

Divulgação Pagamento do pessoal

Houve modificações importantes na organização da produção. Com o atraso na assinatura do contrato devido à mudança de governo, o período e produção iniciaram no dia 15 de janeiro, exigindo um padrão de qualidade superior ao previsto. O quadro político alterou o acesso à oportunidade de negócio.

Assim ficou a divisão dos resultados:

Matéria prima R$ 58.620,47

Serviços R$ 16.570,00

Trabalho R$ 57.510,00

Houve uma sobra de bolsas e de tecido revertida por decisão dos empreendimentos em um fundo : valor R$ 22.075,00.

A autogestão foi aplicada na distribuição dos recursos de pagamento do trabalho. Com a desorganização das próprias contabilidades e a tensão resultante dos dias de produção e o volume de pagamento bem superior ao cotidiano, houve definições políticas de continuidade, porém as relações saíram abaladas. As relações entre os empreendimentos apresentaram sinais desconfiança quanto a quantidade de produção. Estas desconfianças incidiam sobre os valores a serem distribuídos.

As decisões tomadas envolveram apenas o(a)s trabalhadore(a)s e a organização informal baseada na cultura anterior foi a base material dos conflitos. O acerto final ocorreu a partir da checagem de todo o processo, levando em conta os valores correspondentes de produção. Assim foi possível chegar a um denominador comum.

A ocupação gerada com o contrato foi em torno de 150 trabalhadores para 11 dias de trabalho, sendo 85% mulheres e 40% de origem afro. A distribuição por empreendimento e ganhos é variada pelo tipo de atividade, na medida em que a serigrafia ocupa menos e é mais exigente tecnicamente em comparação com a costura neste caso.

No caso do Contrato repete-se o mesmo padrão do funcionamento e organização da Rede no seu conjunto. Há uma divisão em que os empreendimentos concentram-se na produção, ficando dependentes das entidades de apoio para a gestão das oportunidades de negócios e as estratégias do empreendimento.

Consciência de papéis

Mesmo sendo evidente esta divisão do trabalho, ela não é reconhecida no 1º momento nos cálculos dos custos e no valor do trabalho realizado pelos empreendimentos solidários. Para o cálculo do preço não foi incluído nem o valor da gestão nem o custo do transporte do produto entre os empreendimentos durante a produção.

O valor calculado do Fundo criado posteriormente levou em consideração o pagamento destes valores de gestão e logística, porém o Fundo não foi de fato instalado. A proposta previa que parte do recurso se destinava a cobrir eventuais dívidas pendentes no Fórum. Os demais recursos deveriam servir como capital de giro e investimentos futuros da nova articulação em rede.

O resultado final foi a apropriação dos recursos excedentes pelos empreendimentos solidários. Com a conclusão da Rede de Economia Solidária, a expectativa de novas iniciativas nesse terreno ficou latentes, dependendo da ação das entidades de apoio.

Cultura acumulada

Nessa relação fica revelada que a ação dos trabalhadores associados ainda se dá nos marcos da cultura acumulada do trabalho alienado e subordinado assalariado. Na experiência da Rede o papel do gestor – patrão ou seu delegado – foi cumprido pelas instâncias coletivas.

No caso da produção das bolsas, a pesquisa pode aprofundar o estudo no interior dos empreendimentos. Os empreendimentos solidários, em que pese sejam resultados de uma gestão coletiva de trabalhadores associados, apresentam um processo de hierarquia. É uma hierarquia de transição da empresas capitalista – experiência passada – para a autogestão dos empreendimentos solidários. A autogestão é um processo em que a realização da atividade econômica com um permanente processo de educação política vai transformando a formatação do empreendimento.

No estágio atual, tem-se um padrão inicial de organização da autogestão nos empreendimentos solidários em três esferas:

Chefe autoritário;

Núcleo de comando;

Trabalhadores da produção;

Estrutura dos empreendimentos

Chefe autoritário:

Líder carismático.

Detém as relações políticas externas.

Controla a entrada de insumos.

Faz a gestão do dinheiro.

Exerce liderança na comunidade além do empreendimento.

Núcleo de comando:

Comitê central do chefe autoritário.

Base onde se compõe a tensão interna do grupo.

Construção dos consensos entre as lideranças intermediárias.

Constitui a estrutura de gestão do trabalho.

Trabalhadores da produção:

Querem trabalhar e garantir sua renda.

Confiam no chefe autoritário.

Canalizam demandas para o núcleo de comando.

Elementos de tensão: pagamento, disciplina e respeito.

IX. Autogestão como processo

O empreendimento solidário tem na figura do chefe autoritário resquícios do patrão na empresa capitalista, mas não é o patrão. Não cumpre a função da exploração da mais-valia e nem organiza o trabalho para melhor explorá-lo no intuito de obter o lucro. É um líder que dirige em função das fragilidades do grupo.

Está demonstrado que o fim da organização capitalista de empresa não é automaticamente substituída por outra forma associativa democratizada. A cultura da alienação e subordinação assalariada só pode ser transformada com interações exteriores ao empreendimento.

A simples convivência do empreendimento solidário com o mercado tende a fortalecer os laços culturais do passado com a dinâmica da empresa capitalista. O seu funcionamento endógeno tende a cristalizar as estruturas hierárquicas verticais. A situação dos empreendimentos solidários enquanto organização é muito frágil. Os empreendimentos solidários não possuem um marco legal definido. Não possuem contabilidade profissional. Não organizam o planejamento. Não estabelecem estratégias empresariais. Não profissionalizam as vendas.

Estes elementos de gestão não fazem parte do seu universo técnico e tecnológico. A parceria com as entidades de apoio torna-se estratégicas para o desenvolvimento dos empreendimentos solidários. A articulação em redes aglutina empreendimentos solidários e entidades de apoio na ação econômica, integrando as externalidades positivas de mercado.

As redes, para se constituírem, articulam dois elementos:

Oportunidades de negócios;

Autogestão dos parceiros internos;

A pesquisa demonstra que as entidades de apoio têm um padrão de acompanhamento exógeno e não orgânico – contínuo – à atividade econômica dos empreendimentos solidários. Isto se constitui em um fator inibidor de articulação de redes, ambientes propícios para o desenvolvimento da atividade econômica e da autogestão. Apenas com uma aproximação do tipo de apoio das entidades com a atividade econômica, estas passam a serem impulsionadoras de redes.

X. Desenvolvimento da economia solidária

O obstáculo inerente aos aspectos internos à economia solidária, excetuando a conjuntura, é a relação estabelecida entre a cultura acumulada de alienação e subordinação dos trabalhadores de origem assalariada e o acompanhamento das entidades de apoio marcado por um distanciamento da atividade econômica concreta dos empreendimentos solidários.

A articulação em Redes de cooperação solidária, voltadas para a atividade econômica, aglutinadora de empreendimentos e entidades de apoio, disputando o mercado com as empresas capitalistas se apresentam com os ambientes mais favoráveis para o desenvolvimento da autogestão.

A autogestão, como prática concreta de organização da produção, implantação das estratégias, realização das vendas, abre um processo de desalienação e construção de conhecimento e crítica capaz de suplantar os limites dos empreendimentos solidários.

Para o desenvolvimento da economia solidária e a realização dos objetivos a que se propõe a entidade de apoio, torna-se necessário a revisão dos conteúdos e métodos de trabalho junto aos empreendimentos.

XI. Pensamentos dos trabalhadores

Para futuros estudos, algumas sínteses do atual pensamento encontrados entre os trabalhadores organizados nos empreendimentos solidários:

O que é economia solidária?

União e cooperação no trabalho.. Participação e decisão coletiva;

Eficiência para obter renda. Respeito e valorização do ser humano;

Alternativa ao capitalismo (menor medida);

Diferença entre ecosol e empresa capitalista;

Empreendimento solidário empresa capitalista;

Autodisciplina Disciplina totalitária;

Mais crescimento Mercantilização das relações;

Mais risco Salário garantido;

Mais relações humanas Individualismo;

Mais iniciativa Competição;

Solidariedade;

Responsabilidade;

Importância das Redes;

Sustentabilidade aos empreendimentos no capitalismo:

Espaço de discussão, experiência, vendas, comunicação, parcerias;

Gera mudança na forma de pensar, força política e solidariedade;

Dificuldades do empreendimento solidário;

Legitimidade Relacionamento interpessoal;

Eficiência Logística;

Qualidade Individualismo;

Crédito Capacidade produtiva;

Mercado Divulgação;

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