Audiência Pública marca início do projeto “Tô de Boa!” no Sabará
Na tarde do último sábado, 28 de maio de 2022, foi realizada a audiência pública do projeto “Tô de Boa!”, projeto piloto direcionado para jovens de 12 a 29 anos residentes na comunidade Sabará, no bairro Cidade Industrial de Curitiba. O evento aconteceu no salão da Igreja Nossa Senhora Aparecida e reuniu lideranças comunitárias, representantes governamentais e a equipe envolvida no projeto.
Para abrir as atividades da tarde, cada componente da mesa do evento teve um momento de fala, quando expressaram os objetivos, expectativas e a satisfação em estar presente no lançamento do projeto “Tô de Boa!”, cujo foco consiste em atuar efetivamente nas condições onde a vulnerabilidade social, a violência e envolvimento de adolescentes e jovens com as drogas estejam mais presentes, incentivando e propondo estratégias de prevenção à violência e as criminalidades, assentadas na oferta de alternativas e na participação ativa da comunidade.
Representando o poder federal, Gustavo Camilo Baptista, coordenador geral de Investimentos, Projetos, Monitoramento e Avaliação da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos do Ministério da Justiça, disse que “o objetivo (do governo federal) é articular um grande programa nacional para conseguir levar aos jovens que estão nessa idade (juventude) e que podem se envolver com o narcotráfico alternativas que permitam alterar suas trajetórias, ter acesso a geração de renda, desenvolvimento econômico, ter alternativas de geração de identidade que não as oferecidas pelo narcotráfico”.
A intenção do “Tô de Boa!” é que a metodologia utilizada no projeto piloto iniciado no Sabará possa ser replicada em outros bairros e comunidades de todo o Brasil, “o governo federal – representado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública e pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD) – tem uma parceria com o programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), para desenvolver um projeto que consigamos criar um programa de abrangência nacional e que seja focado nas áreas que os jovens estão tendo maior envolvimento com a criminalidade”, explicou Gustavo.
Também estava presente durante o lançamento do projeto Renato Figueroa, delegado da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Paraná, que destacou o envolvimento da comunidade. “Está havendo uma sinergia muito grande entre a prefeitura municipal e os líderes comunitários. Todos somando esforços para que esse projeto se desenvolva da melhor forma possível. O pessoal da Guayí está sendo muito bem acolhido pelas lideranças locais. O projeto é feito para os moradores e a ideia é que eles abracem a causa”, concluiu.
Essa sinergia apontada por Renato Figueroa é um dos elementos trabalhados pela equipe da Guayí, organização da sociedade civil de interesse público (Oscip), que completou 21 anos e atua nessa interface de “fazer com que as políticas públicas criadas e pensadas, muitas vezes, em Brasília, nos gabinetes e nas secretarias, possam chegar com mais qualidade, concretude e significado para as comunidades”, como nos explica André Mombach, coordenador técnico da Guayí.
Ainda segundo André, além dos objetivos principais, dois são os elementos transversais mais importantes pensados e trabalhados no projeto “Tô de Boa!”: a economia solidária e a mediação de conflitos. “Temos trabalhado muito forte a ideia da economia solidária, do associativismo, do cooperativismo enquanto uma alternativa. Discutir isso com os jovens para que eles possam enxergar a sua relação com o mundo do trabalho, a sua relação com a renda a partir da auto-organização para o trabalho, da construção de cooperativas, associações de grupos que possam estar cooperando nessa perspectiva”, explica André.
Sobre a mediação dos conflitos, André pondera que um referencial não-violento, muitas vezes, não é cultivado em nossa sociedade, resultando em soluções que refletem nossa forma de pensar e de comunicar. Para tanto, no sentido de construir esse novo referencial, é fundamental “partir de uma comunicação não-violenta, partir do diálogo, poder construir com esses jovens referenciais para que eles possam resolver seus problemas sem o uso da violência, sem construir um processo de rixas entre grupos. Em última instância, o que está em jogo é a vida desses jovens”, lembra o diretor da Guayí.
Lideranças comunitárias
Após as apresentações dos componentes da mesa, foi apresentada cada uma das dez oficinas previstas para acontecerem nos próximos meses, que incluem em seu escopo a tecnologia, as artes, a comunicação e a capacitação profissional. Outro ponto decisivo do projeto é a criação do Conselho Gestor, grupo que será formado pelas lideranças das várias entidades que já trabalham no local, sejam elas governamentais ou da sociedade civil.
Entre os representantes comunitários estava Juliana Almendro Teixeira, liderança que representa cinco comunidades vizinhas ao Sabará: Dona Cida, Tiradentes, Primavera, Primavera 2 e 29 de Março. Localizadas em áreas de ocupação, tais comunidades abrigam pessoas em estado de vulnerabilidade social, visto não ter acesso a recursos básicos como água, luz e esgoto. A representante das comunidades acredita que o projeto beneficie as comunidades ao redor do Sabará, “mas tem o problema da infraestrutura. Acho que se o projeto estivesse dentro da comunidade, acho que (os benefícios) seriam maiores ainda. Mas sim, criamos essa expectativa que vai dar tudo certo, que será bom”, pontua.
Durante sua fala, Juliana exemplificou a necessidade de espaços para o lazer, a prática de esportes no território das comunidades que representa. “Aqui não tem lazer. Se tivesse uma academia ao ar livre para distrair as pessoas, não seria dessa maneira”. Juliana e os moradores estão na luta para que a municipalidade e o poder público ajudem na implementação de uma cancha de futebol, que seguindo a lógica de sua fala, ajudaria a oferecer outra ocupação para os jovens.
Outro destaque entre as falas foi da Irmã Anete, que representa o Centro de Assistência Social Divina Misericórdia (CASDM), que trabalha com crianças e adolescentes, de 04 a 17 anos na região. Um dos projetos de sucesso destacados pela Irmã Anete foi justamente o time de futebol, que trouxe uma noção positiva de pertencimento ao bairro entre seus participantes, ou seja, os jovens do Sabará. Sobre a expectativa ao projeto “Tô de Boa!”, nos diz Irmã Anete:
“Nossa esperança também é que não seja um projeto estanque, que termine com as oficinas em três meses e depois por falta de recurso, ou qualquer outro motivo, ele (o projeto) não tenha continuidade. Faz mais de 30 anos que transitamos nessa região, e o que me deixa muito triste é quando se gera uma expectativa na comunidade, uma expectativa nas pessoas e depois não se garante a perenidade. Aí vem a importância desse conselho gestor, que é composto por nós que estamos aqui. Não podemos esperar que pessoas de fora venham nos salvar. Temos muito potencial, muita força, e esse projeto da Guayí vem para nos ajudar a perceber as potencialidades que temos”.
Irmã Anete também lembrou que o próprio Sabará já evolui muito em sua caminhada. Destacou que a violência de antigamente já não representa a atual realidade. São os frutos desse trabalho realizado e dessa nova etapa que é proposta pelo projeto “Tô de Boa!” que ajudam a transformar as vidas e as ruas da comunidade. “A beleza desse processo, estando no território, morando aqui, é que você vai se alegrando com as conquistas, com as coisas bonitas, você vai batendo palma, dando a notícia. Isso vai criando um orgulho de ser daqui, de ser do Sabará”, ressaltou Irmã Anete.
Também participaram da audiência pública Maria Amélia, representante do Departamento de Políticas Sobre Drogas da Prefeitura de Curitiba, Luciano dos Santos Oliveira, membro da Associação de Moradores Sabará I e das demais lideranças de ONGS, Coletivos e da sociedade civil do bairro Sabará.
Assessoria de imprensa do Projeto Tô de Boa