Fuá: quando a alegria visitou o Condomínio Arlindo Krentz, em Canoas/RS



Era criança pintada de todas as cores do arco-íris pelo pátio do Arlindo Krentz!
 
No dia 07 de Fevereiro/2015 o Grupo Fuzuê Teatro de Animação/ Núcleo de Teatro de Animação do Ponto de Cultura Quilombo do Sopapo realizou, no Condomínio Arlindo Krentz em Canoas (RS), um sarau de arte e cultura. É o Fuá, um evento de fruição artística para comunidades que vem sendo elaborado pelo grupo Fuzuê.
 
O Fuá foi realizado a convite do Núcleo de Habitação da Guayí, que realiza o trabalho técnico social no Condomínio Arlindo Krentz pelo Programa Minha Casa Minha Vida. Participou junto a Cristalizar Vídeo Produção (CVP), produtora audiovisual incubada no Ponto de Cultura Quilombo do Sopapo.
 
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Por volta das 15 horas, uma kombi carregada de equipamentos, bonecos, artistas e livros desembarcou no condomínio. A criançada curiosa acompanhou a montagem da empanada e do som, e até deram uma palhinha com os intrumentos musicais junto com o músico Richard Kümmel Lipke. Olhinhos curiosos tentavam descobrir o que aquela empanada escondia. Era um “entra e sai” de tecidos, caixas, instrumentos musicais. Algumas senhoras da  comunidade deram uma força para acesso à rede elétrica.
 
No camarinho improvisado no salão de festas de condomínio, os artistas do grupo Fuzuê Teatro de Animação dava os últimos retoques na maquiagem, no figurino e na programação do Fuá.
 
Finalmente, é chegada a hora!
 
Primeiro, uma aquecida nos tambores e formou-se a rodada de música, dança e brincadeiras. Leandro Silva, acompanhado pelos artistas Fábio Schuch, Roberta Darkiewicz, Diane Barros e Júlia Santos, ensinaram o público a cantar, dançar e brincar com canções populares dos povos indígenas do Brasil (aratátá) e Costa Rica (maketuetâmba). Na alegre “Se és feliz!”, a criançada atenta para não errar a coreografia. Bater a mão, bater o pé, dizer legal (legal!), assobiar…
 
A secretária de habitação e desenvolvimento urbano de Canoas, Joceane Gasparetto, fez uma fala de abertura, sendo recepcionada pela mascote do Grupo Fuzuê Teatro de Animação, a boneca Gertrudes. Joceane destacou a importancia do direito à habitação para a qualidade de vida das pessoas e agradeceu ao Núcleo de Habitação da Guayí pela iniciativa de promover a cultura dentro do condomínio com a realização do Fuá.
 
Marion Santos fez uma contação de história do espetáculo Fuzuê no Sertão Encantado, acompanhado pelo espetáculo teatral na empanada. A gurizada sorriu, gritou e torceu por Maneco Azulão, Carminha e o Boi Mimoso.
 
O sarau depois seguiu dois rumos: uma recitação de poemas para adultos, com a participação dos poetas Mateus e Jorge Lima; e pintura a tinta para a criançada, que virou uma farra! A criançada até começou desenhando mas, no final, todo se divertiram mesmo se pintando, correndo e fazendo uma “guerra de tinta” para o desespero de algumas mães! Calma mamães! A tinta é a base de água e sai! Era criança pintada de todas as cores do arco-íris pelo pátio do Arlindo Krentz.
 
E, para fechar, hora de fazer a festa para aqueles que não compareceram ao Fuá. A turma toda saiu em cortejo pelo condomínio cantando, dançando, alguns fazendo barulho com panelas e Gertrudes faceira distribuindo beijos e encantos.
 
Nos despedimos agradecendo ao Condomínio Arlindo Krentz por receber nosso primeiro Fuá, que retribuiu com palmas e depoimentos emocionados! Arrumamos as traquitanas e voltamos a Porto Alegre com o coração cheio daquela felicidade que só o fazer, o saber e o viver artístico pode proporcionar.
 
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Alguns aprendizados no primeiro Fuá, em Canoas, RS:
 
– Na roda de conversa com o grupo, a criançada não se reconhece como uma “comunidade”. A palavra gerou incômodo em alguns pequenos, que fizeram questão de corrigir. Para eles, comunidade era onde viviam “antes”. Agora, moram em um “condomínio”. O condomínio representa uma melhoria das condições de vida deles, um salto para “fora” da pobreza. Uma das crianças inquiriu o artista bonequeiro Leandro Silva, que é do Piauí, sobre o que é comunidade lá. Leandro Silva explicou como era o modo de vida das comunidades do Nordeste, onde as pessoas viviam em casas pequenas, com grandes quintais, próximas umas das outras e as crianças brincavam livremente na rua. E que ser da comunidade não tem nada a ver com ser pobre nem ser marginal. As crianças demonstraram não gostar da ideia de “viver em comunidade”, um desafio para a Guayí colaborar na desconstrução e ressignifação do que é de fato a “comum-unidade” de pessoas, que convivem pautadas pelo respeito, a tolerância e a solidariedade.
 
– Descobrimos no meio da atividade que muitas crianças não se conheciam e era a primeira vez que brincavam juntos. Ficamos espantados com esta constatação. Como destacou Diane Barros, “quantas amizades não nasceram nesta tarde, durante o Fuá?”
 
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– A nossa proposta de construir um painel de desenhos e pintura sobre como vivem as crianças no condomínio desaguou numa grande bagunça, uma brincadeira de tintas, correrias e jogo de pega-pega. Nossa leitura é que as crianças estavam com sede de brincarem juntas, com liberdade e aproveitando aquele momento em que tantas outras crianças estavam reunidas no mesmo espaço. Para nós, no fim, o resultado da brincadeira foi, metodologicamente, importante para elas.
 
– Apesar do grande número de famílias vivendo no Condomínio Arlindo Krentz, o número de participantes no Fuá foi relativamente baixa, especialmente dos adultos. A grande parte do público era formada por crianças, mulheres e idosos. Houve pouco envolvimento e presença de jovens. No entanto, observamos grande número de pessoas acompanhando o espetáculo das janelas de suas casas, inclusive com crianças. Durante o cortejo, muitas janelas se abriram para acompanhar visualmente e à distancia, de onde nos sorriam e acenavam.
 
– Uma mãe agradeceu a presença do Grupo Fuzuê Teatro de Animação e destacou como aquela tarde foi importante para ela e seus filhos. Desejou que voltássemos mais vezes.
 
– Uma senhora idosa profundamente emocionada relatou nunca ter visto qualquer forma de teatro na vida. Muito menos teatro de bonecos. Estava muito encantada e nos fez prometer voltar um dia.

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