Os 10 anos da Guayí: leia carta-convite às celebrações



O início do século XXI foi intenso no Brasil e no mundo. As sociedades carregavam uma herança de importantes mudanças com resultados desiguais para a população. Os governos foram enfraquecidos. O mundo do trabalho foi flexibilizado. A economia foi financeirizada. A exclusão explodiu aos milhões. Vivenciamos o fortalecimento e surgimento de organizações vindas dos movimentos e lutas sociais. Foi em meio a esse contexto que se iniciaram as edições do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre.

Nesta primeira década, no Brasil e na América Latina, com a participação ativa da sociedade e dos movimentos sociais, governos passaram a implementar políticas públicas e criar espaços de participação, visando à inversão de prioridades. Experiências como as tecnologias sociais e ambientais, a liberdade de criação e a economia solidária passam a pautar o debate para uma sociedade emancipada, sustentável e democrática.

Foi nesse período, em meados de 2001, que a Guayí nasceu, imbuída da esperança que movimentou Porto Alegre, o Brasil e o mundo todo. Colocava-se o desafio de plantar sementes de democracia, participação e solidariedade. O compromisso assumido é o de provar que é possível fazer diferente. Como disse Eduardo Galeano: “Fazer é a única forma de mostrar que é possível transformar o mundo”.

Assim, a Guayí se somou ao esforço coletivo de ONGs, OSCIPs, associações, sindicatos, centrais, movimentos, fundações, igrejas e todas aquelas entidades que acreditam que um outro mundo é possível.

Dez anos se passaram. O mundo continuou se transformando. A vivacidade de movimentos e ações da sociedade que eclodem por todo o mundo atesta que ainda há muito que mudar, e que há pessoas dispostas a promover essas mudanças. O Brasil é um exemplo significativo desse processo, porque a ação organizada da sociedade produziu experiências forjadas nos debates sociais e dos conselhos, na execução de políticas públicas e na organização popular, que foram capazes de alterar sua relação com o Estado, para, assim, fazer o país avançar numa nova perspectiva.

A Guayí orgulha-se de ser filha desse processo. É por sentir esse orgulho que desejamos comemorar nossos dez anos. Uma década em que semeamos um novo mundo na Rede Industrial Confecção Solidária, na Emrede, na Economia Solidária Feminista, no Quilombo do Sopapo, no Arroz Quilombola, nos Planos Municipais de Ecosol, na Biomineralização, no Pronasci, na Ecosol como Prevenção à Violência, no Km 21, na Justiça Comunitária, nas Mulheres da Paz, nas Cooperativas Habitacionais, na Agenda 21, na Cadeia Produtiva Reciclagem/ARCS, na Campanha do Desarmamento, no Fórum Brasileiro da Economia Solidária…

Dez anos de fomento à participação popular e à economia solidária, de defesa da democracia, do feminismo, da juventude, do ecologismo, da cultura, da livre orientação sexual, da agricultura familiar, dos direito humanos, da segurança cidadã, da habitação popular, do etnodesenvolvimento; e principalmente, de participação na construção da história do povo brasileiro.

Temos a honra de convidá-lo(a) para participar de nossas celebrações. Como não poderia ser diferente, serão marcadas por debates inquietos sobre o futuro. Contudo, não deixarão de resgatar o que fizemos até aqui e o muito que ainda temos por fazer. E, também, teremos festa, aguarde!

Queremos celebrar e agradecer a todos e todas que estiveram conosco nesse início de jornada. Aprendemos muito e temos muito mais a aprender. Porque, como já vimos, os profetas do fim do século XX se enganaram: a história não tem fim. E nós estamos apenas começando.

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